Os riscos psicossociais no ambiente de trabalho estão cada vez mais em evidência, refletindo um cenário global de aumento de afastamentos e impactos negativos sobre a saúde mental dos trabalhadores. No Brasil, com a publicação da NR-01 (Norma Regulamentadora 01), que trata da gestão de riscos ocupacionais, a responsabilidade das empresas na identificação e controle desses fatores tornou-se ainda mais importante.
A ergonomia desempenha um papel fundamental na gestão dos riscos psicossociais, atuando na identificação dos fatores de risco psicossociais de maneira preventiva para evitar o adoecimento dos trabalhadores e promovendo condições mais adequadas e produtivas de trabalho através de ações estratégicas após o diagnóstico.
Riscos Psicossociais - Contexto Atual: NR-01 e Aumento dos Afastamentos
Com as mudanças trazidas pela NR-01, as empresas agora são obrigadas a realizar a gestão de riscos ocupacionais, incluindo os psicossociais, que envolvem diversos aspectos do trabalho, tais como a gestão organizacional, as tarefas, relações sociais, organização do trabalho, jornadas de trabalho e que refletem diretamente nas condições emocionais, mentais e sociais do trabalho. Segundo dados da Previdência Social, o número de afastamentos por questões relacionadas à saúde mental, como depressão, ansiedade e estresse, tem aumentado significativamente nos últimos anos. Esse cenário reflete não só a crescente pressão nos ambientes corporativos, mas também a necessidade urgente de as empresas adotarem uma abordagem mais ampla de saúde ocupacional.
No cenário global, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) já vem alertando sobre os impactos dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho, especialmente em momentos de crises econômicas e sociais, como a pandemia da COVID-19. As empresas precisam agir para identificar esses riscos e implementar ações eficazes, tanto para proteger a saúde dos colaboradores quanto para garantir a continuidade de suas operações.
Impacto nas Empresas e Produtividade
A presença de riscos psicossociais no ambiente de trabalho não afeta apenas os colaboradores diretamente, mas também gera impactos significativos na produtividade das empresas. Colaboradores que sofrem com estresse, assédio moral, sobrecarga de trabalho ou falta de reconhecimento têm uma queda considerável no desempenho, maior presenteísmo, maior índice de faltas e menor engajamento.
Além disso, os afastamentos relacionados à saúde mental têm uma duração, em média, maior do que os afastamentos por lesões físicas, resultando em custos elevados para as empresas, tanto com despesas médicas quanto com a substituição temporária ou permanente de colaboradores. Esses fatores aumentam o turnover, prejudicam a moral da equipe e comprometem o clima organizacional.
Quais São os Riscos Psicossociais?
Os riscos psicossociais envolvem fatores relacionados ao contexto organizacional e à forma como o trabalho é estruturado. Entre os principais riscos, destacam-se:
Sobrecarga de trabalho: Quando a demanda supera a capacidade do colaborador, gerando estresse crônico.
Falta de autonomia: Quando o trabalhador tem pouca ou nenhuma influência sobre o modo como realiza suas tarefas.
Assédio moral ou psicológico: Situações em que o colaborador é alvo de agressões verbais, humilhação ou intimidação.
Falta de suporte social: Ausência de apoio por parte de superiores ou colegas, criando um ambiente de isolamento.
Jornada de trabalho excessiva: Longas horas de trabalho, sem pausas adequadas ou equilíbrio com a vida pessoal, podem levar ao esgotamento físico e emocional.
Falta de reconhecimento: A ausência de feedback positivo ou valorização pelo trabalho realizado pode minar a motivação e gerar frustração.
Como a Ergonomia Pode Identificar e Mitigar os Riscos Psicossociais
A ergonomia, muitas vezes associada à prevenção de lesões físicas, também desempenha um papel fundamental na identificação e gestão dos riscos psicossociais. O conceito de ergonomia organizacional e cognitiva considera os fatores psicossociais relacionados ao trabalho, como as demandas cognitivas, a organização do trabalho, e as interações sociais.
Os ergonomistas podem ajudar as empresas a:
Realizar a Avaliação Ergonômica Preliminar (AEP) e Análises Ergonômicas do Trabalho (AET) que incluam não só os aspectos físicos, mas também o impacto psicológico das condições de trabalho.
Avaliar as condições de carga mental e emocional, identificando fatores como excesso de tarefas, pressão por resultados e falta de apoio no ambiente de trabalho.
Promover a adaptação das jornadas de trabalho, propondo pausas adequadas e sugerindo uma melhor distribuição das tarefas para evitar sobrecarga.
Avaliar e recomendar melhorias no processo de execução do trabalho auxiliando a melhorar o fluxo de trabalho para que seja melhor adaptado às condições do ser humano, buscando diminuir o esforço e aumentar a eficiência dos processos.
Facilitar a comunicação entre líderes e equipes para criar um ambiente de trabalho mais colaborativo e menos estressante.
Prazo para Cumprimento da NR-01 e Benefícios
A NR-01 exige que as empresas implementem um sistema de gestão de riscos, incluindo os psicossociais. O não cumprimento dessas exigências pode resultar em multas e sanções legais. Por isso, é crucial que as organizações estejam atentas aos prazos para adequação, revisem seus programas de saúde e segurança do trabalho e integrem a ergonomia como uma estratégia central para a prevenção de riscos.
Benefícios:
Redução de afastamentos e custos associados
Aumento da produtividade e eficiência operacional
Melhora do clima organizacional e retenção de talentos
Conformidade com as exigências legais (NR-01 e NR-17)
Conclusão: Ergonomia e Psicossociais – Caminho para a Sustentabilidade Organizacional
A gestão dos riscos psicossociais com o suporte da ergonomia vai muito além do cumprimento da legislação – é uma estratégia essencial para a criação de um ambiente de trabalho saudável, seguro e produtivo. Identificar e mitigar esses riscos promove o bem-estar dos colaboradores e garante a sustentabilidade das operações, evitando afastamentos, reduzindo custos e aumentando o engajamento das equipes.
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